Mês: fevereiro 2019

A importância do modelo OAIS enquanto meio de preservação digital

Foi o Consulative Committee for Space Data Systems (CCSDS) que criou um modelo de referência no que se refere à preservação digital que vamos abordar nessa postagem – seu intuito foi o de padronizar atividades de preservação digital. O nome desse modelo é Open Archival Information System, que atende pela sigla OAIS. É um modelo complexo de referência sobre como deve ser um sistema de informação de arquivo para a preservação digital permanente. A sua tradução, inclusive, também é tema de certo debate; pode ser “Sistema de Informação de Arquivamento Aberto” ou “Sistema Aberto de Informação de Arquivo” – sendo a primeira versão mais utilizada pelos tradutores hispânicos, ou, no Brasil, SAAI (Sistema Aberto de Arquivamento de Informação). O termo “aberto” significa que o modelo foi desenvolvido em fóruns abertos e não necessariamente que o acesso ao arquivo seja ilimitado.

OAIS, portanto, é o modelo de referência que define os processos necessários para que se preserve e se chegue aos objetos de forma efetiva e a longo prazo, estabelecendo entre eles uma linguagem em comum. Como o próprio nome diz, trata-se de um modelo e, portanto, não especifica uma forma de como fazer esses processos, mas sim um jeito de fazê-lo de forma exitosa, descrevendo as funcionalidades básicas e os tipos de informação requeridos para sua preservação. OAIS identifica as obrigatórias responsabilidades, bem como as interações dos produtores, consumidores e gestores dos documentos (tanto em papel como digitais). Contribui, assim dizer, para um método que busca descrever a funcionalidade de repositório, proporcionando modelos detalhados de informação e funções arquivísticas.

O CCSDS é um corpo normativo que mantém um enfoque em dados terrestres e do espaço (fundado em 1982 pelas principais agências aeroespaciais do mundo, como um fórum multinacional); o OAIS, por este corpo desenvolvido, passou a ampliar seu horizonte em um conjunto de coletivos mais amplo ainda do que quem o criou. O CCSDS tratou, assim, de deixar o OAIS aplicável a uma ampla variedade de tipos de repositórios – nesse sentido, esse modelo converteu-se em uma língua universal para os sistemas de informação arquivísticos, que tem sido amplamente adotada por possibilitar a comunicação efetiva entre projetos de escala nacional e internacional.

Como o próprio documento do CCSDS acerca do modelo OAIS diz, este é um arquivo consistente em uma organização, que pode formar parte de outra maior, em pessoas e sistemas que aceitaram a responsabilidade de preservar informação e fazê-la acessível a uma Comunidade Designada. O conceito de Comunidade Designada (Designated Community), segundo a definição do glossário do modelo, é “um grupo identificado de consumidores potenciais que deve ser capaz de entender um conjunto particular de informação”. O OAIS, então, ainda segundo esse documento:

  • fornece uma estrutura para a compreensão e maior conscientização dos conceitos de arquivamento necessários para a preservação e o acesso à informação digital de longo prazo;
  • fornece os conceitos necessários pelas organizações não arquivísticas para serem participantes efetivos no processo de preservação;
  • fornece uma estrutura, incluindo terminologia e conceitos, para descrever e comparar arquiteturas e operações de arquivos existentes e futuros;
  • fornece uma estrutura para descrever e comparar diferentes estratégias e técnicas de preservação a longo prazo;
  • fornece uma base para comparar os modelos de dados de informações digitais preservadas pelos Arquivos e para discutir como os modelos de dados e as informações subjacentes podem mudar ao longo do tempo;
  • fornece uma base que pode ser expandida por outros esforços para cobrir a preservação a longo prazo de informações que não estejam em formato digital (por exemplo, mídia física e amostras físicas);
  • expande o consenso sobre os elementos e processos para a preservação e o acesso a informações digitais de longo prazo e promove um mercado maior que os fornecedores podem suportar;
  • orienta a identificação e produção de padrões relacionados a OAIS.

O modelo OAIS foi criado por e  para quem tem necessidades concretas sobre a preservação e acesso de dados a longo prazo, assim, se pode aplicar em qualquer repositório, especialmente em aquelas organizações com responsabilidades de manter a informação acessível por um longo período de tempo. Lembrando que isso vale não apenas para organizações, mas também indivíduos que percebam essa importância, bem como quem precisa obter certos arquivos e não estão ligados a quem os manteve ali.

Por fim, como base conceitual, o OAIS parte do princípio de que é mais difícil preservar informação digital que em papel ou filme, pois entre o ônus da tecnologia está a rápida obsolescência e seus consequentes perigos de perda da informação. Mesmo assim, considera que não se trata de uma questão exclusivamente tecnológica, mas também com implicações organizacionais, legais, industriais, científicas e culturais que devem ser levadas em consideração. Ignorar os problemas da preservação da informação em formato digital acarretaria a sua perda.

Temos que o OAIS tem o propósito de promover uma variedade de funções e sistemas de armazenamento e preservação, logrando seus objetivos vencendo o problema da obsolescência da informação digital e ao mesmo tempo minimizando os custos dessa operação. Tem, portanto, fundamental relevância com a temática de compartilhamento de dados de pesquisa, e se tornou em 2003 uma norma internacional, ISO 14721:2003.

Se interessou em saber mais? Acesse este documento editado pelo Conselho Nacional de Arquivos (Conarq).

 

 

 

 

Dataset Search: nova ferramenta de busca para dados científicos é lançada pela Google

Ainda em versão beta, a Google lançou recentemente uma ótima opção que objetiva facilitar o acesso da comunidade acadêmica a um conjunto de dados de pesquisa, que em geral estão espalhados em repositórios online. Dentre os repositórios que a Dataset Search tem acesso a dados completos de diversos tipos de estudos estão agências governamentais, bibliotecas digitais, sites de editoras ou páginas pessoais de cientistas.

Esse serviço vem para ampliar ainda mais os recursos da Google para a comunidade acadêmica e científica. Antes, já havia o Google Acadêmico, porém verificou-se que havia demanda para uma ferramenta que buscasse especificamente dados de pesquisa.

Segundo a pesquisadora em inteligência artificial da Google, Natasha Noy, existe um foco em dados de ciência ambiental, ciências sociais e de pesquisa governamental, porém, à medida que a Dataset Search se torne mais popular, a tendência é que a quantidade de conjuntos de dados disponível aumente.

Existe o fomento a que os fornecedores de dados utilizem o padrão aberto desenvolvido pela empresa para fazer uso do compartilhamento; é mais uma opção que auxilia o fazer científico para que as informações e dados se tornem cada vez mais acessíveis e para uma gama de pesquisadores cada vez maior.

II Relatório: Projeto RDP Brasil – Acesso Aberto a Dados de Pesquisa no Brasil (Práticas e Percepções dos Pesquisadores)

Após a conclusão do I Relatório do nosso projeto, está terminado também o segundo. Intitulado “Práticas e Percepções dos Pesquisadores”, traz 91 páginas de dados obtidos através de uma pesquisa tipo survey, onde os pesquisadores foram contatados via e-mail e lhes foi pedido que respondessem o questionário “Práticas e percepções sobre acesso aberto a dados de pesquisa”, que continha 27 questões e foi respondido por 4.703 pessoas.

Dentre os principais resultados, demonstra-se que 49,36% dos respondentes nunca havia utilizado dados compartilhados, enquanto 23,49% nunca compartilharam dados, contra 53,79% que mantêm essa prática. Ainda, nota-se que 58, 41% dos respondentes apontaram não ter à sua disposição um repositório institucional para compartilhamento de dados de pesquisa. Pode-se concluir que a prática de compartilhamento total e irrestrito ainda não é algo comumente aceito, embora tenha certa receptividade.

Ficou interessado? Clique aqui e leia o II Relatório na íntegra.